Semana passada li O que há de estranho em mim, da Gayle Forman. A autora ficou conhecida aqui no Brasil por Se eu Ficar, livro lançado em 2014, mesmo ano em que saiu nos cinemas a adaptação de mesmo nome e colocou a atriz Chlöe Grace Moretz nos holofotes representando a personagem principal, Mia.
Minha surpresa foi descobrir que esse lançamento da Editora Arqueiro é, na verdade, o primeiro romance da autora e que foi publicado há quase 10 anos. Porém, o assunto continua bastante atual: definir onde termina a rebeldia própria da fase da adolescência e onde começa um pedido de socorro para um problema mais sério, que muitas vezes aparece de forma muito silenciosa.
Quando postei a foto no Instagram, comentei que o o enredo me lembrava vagamente de Garota, Interrompida, um livro autobiográfico excelente da Susanna Kaysen, uma jovem que tinha dificuldade de se adaptar no seu mundo, na década de 60. Pois bem, os dois livros seguem caminhos distintos, de certa forma.
O que há de estranho em mim é uma ficção contemporânea, mas que infelizmente reflete a realidade de muitos adolescentes. Talvez, seja mais comum em outros países, pois não vejo com tanta recorrência aqui no Brasil "casas especializadas" com atividades escolares para jovens com distúrbios ou problemas psicológicos. Por favor, me corrijam se eu estiver errada. E é exatamente isso que o livro retrata: a protagonista, Brit, é internada no Red Rock, uma espécie de lugar onde os pais acreditam que seus filhos estão recebendo tratamento psicológico para seus problemas. Seu pai acredita que o melhor é deixar a menina lá, por estar apresentando comportamento rebelde e raivoso nos últimos tempos.
Poderia definir o sentimento que tive durante 90% da leitura em algumas palavras: angústia, impotência e sensação de nó na garganta. Como disse ali em cima, é difícil classificar gestos e ações de jovens que passam por essa fase apenas como "rebeldia" ou "não-rebeldia". Ao se verem nessa situação, ao invés de tentar realmente conversar com seus filhos, o comportamento de alguns pais é tentar se livrar do problema, como se tudo fosse "coisa da fase", que uma dose de remédios ou alguns psicólogos podem resolver em algumas sessões. É realmente muito mais complexo do que isso.
Forman nos apresenta uma personagem que precisa ajustar alguns sentimentos dentro de si mesma, descobrir o que sente e que muitas vezes não sabe demonstrar. Porém, algumas meninas que enviadas ao Red Rock realmente precisam de um acompanhamento mais sério, estão doentes e apresentam distúrbios sérios, como bulimia, anorexia e outros, e o local simplesmente é uma farsa. Além de não alimentarem as meninas direito, as submete à situações de constrangimento e competição. É apenas um local para arrancar dinheiro de alguns pais que não sabem lidar/não querem lidar com os próprios filhos. Como disse, angustiante.
Brit, felizmente, consegue estabelecer amizades em Red Rock, com algumas garotas que passam por problemas distintos e que possuem personalidade bem diferente entre elas. Mas o propósito de todas é o mesmo: saber como sobreviver ao local e encontrar força uma nas outras para seguir em frente e sair de lá o mais breve possível, mesmo com os métodos deturpados.
A leitura flui de maneira muito rápida, pois queremos saber o que será das meninas e torcemos para que o melhor aconteça para cada uma delas. Achei o final muito corrido, mas a autora conseguiu me cativar bastante ao tocar em assuntos nos quais não tenho tanta vivência, mas que me fizeram enxergar alguns problemas de outra forma. Recomendo bastante a leitura, assim como também recomendo Garota, Interrompida, que mesmo sem abordar exatamente os mesmos pontos do livro da Gayle, sinto como se um complementasse o outro, principalmente na questão de ver e entender os próprios sentimentos.
Título: O que há de estranho em mimTítulo Original: Sisters in Sanity
Autor: Gayle FormanPáginas: 224Tradutor: Marcelo MendesData de Publicação: 2016Editora: ArqueiroIdioma: PortuguêsGênero: YA - Universo JovemISBN: 978-8580414806
Ei Lygia
ResponderExcluirEstou lendo no momento, devo estar quase na metade e estou gostando bastante. Gosto muito do estilo da autora. Acho tão fininho que tenho medo de terminar muito em aberto, isso sempre me incomoda.
Morro de dó das meninas, tenho ódio mortal da madrasta.
bjs
Oi, Lygia!
ResponderExcluirEsse foi o único livro da Gayle que me interessou. Estou muito ansiosa para começar a leitura.
Realmente, aqui no Brasil, eu nunca vi dessas casas, mas, nunca se sabe...
Beijos
Balaio de Babados
Eu gosto muito de livros com esses tipos de assuntos mais pesados/polêmicos e fiquei interessada nele livro. Li se eu ficar e não consegui gostar mas a capa e o título desse já despertaram meu interesse então eu vim conferir a resenha. Eu li um livro da globo que se chama redoma e parece ser no mesmo estilo. Um lugar cheio de adolescentes com problemas ficando até piores enquanto os pais acham que eles estão melhorando. Fico realmente com muita pena desses casos onde os pais preferem se livrar do problema ao invés de permanecer do lado dos filhos. Não entendo de distúrbios mas acho que muita coisa poderia ser resolvida com carinho, conversa e amor dos pais. Enfim, acho que você me convenceu a ler. haha
ResponderExcluirBeijos!
http://www.prateleiracolorida.com.br/
Eu amo "Garota, interrompida". No Brasil as casas de tratamento psiquiátrico não fazem mais internação, os pacientes voltam pra casa no fim do dia pq acreditam que o contato com a família ajude na recuperação e numa vida mais normal.
ResponderExcluirEu gostei só de um livro dela, to com vontade de ler esse, mas com medo de detestar como os outros hahaha
Adorei a resenha!
ResponderExcluirAdmito que eu não estava me interessando por este livro. Mas ele parece profundo!