Devo confessar, primeiramente, aos co-autores desta coluna que dia após dia me sinto mais entusiasmada em escolher contos ou crônicas para compartilhá-los com vocês.
Minha filha sugeriu-me que eu alternasse autores e autoras e eu, aleatoriamente, pareço que estou seguindo sua sugestão.
Nesta semana, escolhi uma mulher com a qual me identifico pela leveza e sensibilidade de tematizar o prosaico, as cenas mais comuns do cotidiano.
O eu-lírico dos poemas e o narrador das crônicas refletem, nos textos, o estado de espírito da escritora que viveu perdas muito dolorosas na infância: o falecimento dos pais, posteriormente, a morte da avó que a criara; o suicídio do primeiro marido e, mais tarde, a ausência dos filhos que naturalmente, seguiram o seu rumo: viagens, casamento e profissão.
A maior característica presente nos textos de Cecília é a fugacidade do tempo e a efemeridade da vida. É perceptível que a autora através do eu-poemático queira prender o instante com as mãos como se a qualquer instante o inusitado pudesse tirar-lhe o gosto de viver.
A crônica nos fala de solidão e para surpresa do leitor, a cronista confessa que se fosse para uma Ilha deserta, levaria consigo um dicionário, o mais democrático dos livros.
“Não sei se muita gente haverá reparado nisso — mas o Dicionário é um dos livros mais poéticos, se não mesmo o mais poético dos livros. O Dicionário tem dentro de si o Universo completo”.
Vale acrescentar que a crônica apresenta uma função metalinguística da linguagem, uma vez que recorre aos diferentes signos verbais encontrados, claro, no dicionário para representar diferentes sensações e sentimentos.
O dicionário apresenta-nos o significado dos vocábulos sem hierarquia, sem preferências por uma ou outra expressão. Cabe a nós leitores atentos e sensíveis criar um mundo colorido ou preto e branco com as palavras que melhor se encaixarem com os nossos pensamentos e emoções.
O dicionário apresenta-nos o significado dos vocábulos sem hierarquia, sem preferências por uma ou outra expressão. Cabe a nós leitores atentos e sensíveis criar um mundo colorido ou preto e branco com as palavras que melhor se encaixarem com os nossos pensamentos e emoções.
“A minha pena é que não ensinem as crianças a amar o Dicionário. Ele contém todos os gêneros literários, pois cada palavra tem seu halo e seu destino — umas vão para aventuras, outras para viagens, outras para novelas, outras para poesia, umas para a história, outras para o teatro”.
A escritora Cecília Meireles não gostava de ver o seu nome filiado a estilo literário. Premia-nos com poesias ora românticas, impregnadas de tons simbolistas; às vezes, o Barroco também está presente e o coloquialismo exemplifica o Modernismo.
Ler Cecília Meireles é descansar à sombra de uma árvore, deitar-se na rede, tirar um cochilo após o almoço, sonhar acordada e deixar que o coração fale, guiando os passos da razão.
“Poderia louvar melhor os amigos, e melhor perdoar os inimigos, porque o mecanismo da minha linguagem estaria mais ajustado nas suas molas complicadíssimas. E sobretudo, sabendo que germes pode conter uma palavra, cultivaria o silêncio, privilégio dos deuses, e ventura suprema dos homens”.
Postado por Denise Silveira [Professora de Português, Literatura e Redação.Com 31 anos de experiência no magistério. Pós graduada em Literatura Brasileira pela UERJ. Ah, e o mais importante, minha mãe].
Denise, acho suas colunas espetaculares!
ResponderExcluirNão é a toa que você é professora!
Apesar de admirar Cecília Meireles, não conheço a fundo sua obra e fiquei deliciada com o que li sobre ela! Achei linda a citação sobre o dicionário ser o livro mais poético de todos, só alguém com uma visão romântica e artística para enxergá-lo assim e proferir tão lindamente a frase!
Mari, acertou em cheio em chamar sua mãe para ser colunista! Além dos posts serem ótimos, é muito fofo encontrar uma blogueira cuja mãe auxilia diretamente no blog ^^
Beijos!
Nossa parabéns por falar dessa grande mulher que foi Cecilia Meireles...na sala que tem o nome dela no centro do RJ eu costumava fz minhas apresentações de ballet, um dia perguntei a minha mâe ainda menina quem era a dona daquilo lá...do teatro e então ela me contou sobre ela...e me encantei de tal forma que tenho um grande carinho tanto pela pessoa que ela foi quanto pelo lugar maravilhoso aqui no RJ que leva o nome dela
ResponderExcluirbjs
Raffa Fustagno
http://livrosminhaterapia.blogspot.com/
Muito legal a postagem desta semana, na coluna. Fabuloso. Ainda mais sua mãe sendo professora!
ResponderExcluirBom, vamos combinar que Cecília Meirelles é ótimo! Os poemas, frases, tudo!
Enfim, adorei!
Bj.
Adorei a coluna!
ResponderExcluirPerfect!
Deve ser ótimo ter uma mãe professora! *--*
Bia | Blog Livros e Atitudes